segunda-feira, 23 de junho de 2008

OS EVANGÉLICOS E A MÚSICA

Entendo a música como uma expressão artística sensacional, que inspira e nos permite extravasar nossas emoções e sentimentos. Até mesmo um ateu convicto, como Nietzsche, percebeu que “a vida sem a música seria um erro.” Mas, pessoalmente, creio que Deus foi não apenas o criador das notas musicais e dos ritmos, mas também é dele que vem o talento de todos os compositores e músicos. O que cada um fará com os talentos que Deus lhe deu já é outra questão.

O tabu
Mas, ao contrário de outras expressões de arte, como a poesia e a pintura, por exemplo, a música tornou-se um dos maiores tabus dentro no meio evangélico. Se um crente comprar um quadro de um artista não cristão, ou ler um livro de Machado de Assis, por exemplo, ninguém o condenará por isso. Mas, se ele deliberadamente ouvir uma música não evangélica, o irmão está se “desviando” – é como julgam. Não é assim que acontece na maioria das igrejas?

Para grande parte dos evangélicos, se uma música não fala de Deus, provavelmente esta canção é do diabo. Há um preconceito contra qualquer cantor ou grupo que não seja “gospel”. Interessante é que o mesmo critério não é usado para os filmes de cinema ou televisão. Lembro de eu estar almoçando com um pastor, que me recomendava com entusiasmo o filme Titanic, que estava em cartaz no cinema. Ele ainda sugeriu que levasse a juventude da igreja comigo. Não há problema nenhum nisto... Mas daí surge uma questão: por que seria pecado comprar o cd de Celine Dion, mas não seria igualmente pecado ouvi-la cantar durante as cenas românticas de Titanic? Será que a música deixa de ser música quando está inserida nos filmes?

A hipocrisia
O pecado que Jesus combateu com maior veemência foi o da hipocrisia. E a maioria dos evangélicos é hipócrita quando o assunto é música. Por que seria pecado ouvir música secular, mas não seria pecado assistir a um filme secular? Afinal de contas, aquilo que vemos causa muito maior influência do que aquilo que ouvimos. Eu não conheço nenhum crente que não assista filmes na TV de vez em quando. Mas conheço uma porção que condena ferozmente a música secular. Alguém consegue me explicar isto?

Estou cansado desta hipocrisia. Durante muito tempo não questionei este tipo de atitude incoerente, e até agi assim, influenciado pela maioria dos crentes. Mas decidi que está na hora de questionar certas doutrinas que nada mais são que fardos pesados e inúteis.

Quero deixar claro aqui o meu posicionamento em relação a música. Para simplificar, disponho-me a responder a três perguntas que podem parecer ridículas, mas que no meio evangélico são essenciais:

1º) Ouvir música secular é pecado?
A palavra pecado significa “errar o alvo”, ou seja, desagradar a Deus. O que desagrada a Deus? Se você é uma pessoa com o mínimo de discernimento, será capaz de selecionar entre uma música e outra.
Há músicas que promovem o sexo ilícito, o uso de drogas, a rebeldia, entre outras atitudes condenadas claramente na Bíblia. Obviamente, decidir ouvir tais músicas pode tornar-se um pecado, pois a mensagem que elas contêm é pecaminosa. Comprar, por exemplo, o cd de um grupo ou cantor que faça apologia às drogas é patrocinar o crime e ser conivente com seu erro.
Por outro lado, há outras músicas que são simplesmente poesia. Assim como não há nenhum problema em ler um poema, não há problema algum em ouvir música secular que não promova o pecado. Algumas músicas também fazem críticas positivas contra a desigualdade, o preconceito racial e a corrupção. Também não vejo mal algum em ouvir tais canções, desde que não promovam a violência.

2º) Existe ritmo de Deus e ritmo do diabo?
Claro que não. Simplesmente existem ritmos que acalmam, ritmos que agitam, e ritmos que perturbam. No entanto, o que para alguém é perturbação, para outro é uma tremenda curtição. Ritmo é questão de gosto pessoal.
Mas, se queremos agradar a Deus, precisamos tomar cuidado com a influência do ritmo de certas músicas. Há ritmos que induzem a violência, e outros que induzem a uma dança sensual. Neste caso, devemos evitar ouvir tais músicas, porque a sensualidade é claramente condenada na Bíblia.

3º) É pecado tocar ou cantar música não evangélica?
Depende daquilo que se está tocando ou cantando. Mais uma vez, trata-se de uma questão de bom-senso.
Há certos compositores e cantores que são adeptos de seitas malignas. Sabendo disto, é desaconselhável que se cante ou toque suas músicas. Recentemente soube de uma cantora muito famosa que, diante de uma multidão de fãs, incorporou uma entidade maligna durante um show.
No entanto, se tanto a letra quanto o ritmo não induzem ao pecado, e não provém do maligno, não vejo nenhum mal em tocar ou cantar uma música não evangélica.

Farão comércio de vós
A quem interessa que os cristãos só ouçam a chamada música gospel? Quem sai lucrando com isto? Precisamos ter cuidado, para não sermos manipulados por aqueles que nos vêem como fonte de lucro. A respeito destes últimos dias, o apóstolo Pedro profetizou:
“movidos por avareza, farão comércio de vós, com palavras fictícias; para eles o juízo lavrado há longo tempo não tarda, e a sua destruição não dorme.” (2 Pedro 2:3 RA)
O que é realmente errado? Ouvir música não cristã, ou tirar R$3.000,00 das ofertas para pagar o cachê de um cantor evangélico? Este é o valor mínimo que uma “estrela” gospel cobra para cantar em sua igreja. Conheço um pastor que convocou os jovens para vender alho no sinal de trânsito a fim de que pudessem pagar o cachê de uma cantora famosa.

E, por conivência de muitos pastores, as ovelhas continuam sendo exploradas e o mercado da música gospel está cada vez mais lucrativo...

O ponto de equilíbrio
O principal motivo para eu expor minha opinião é fazer com que todos meditem seriamente a respeito do assunto. Especialmente se você for cristão. Examine as Escrituras. Desafio você a encontrar algum texto que condene ou proíba uma música só porque ela não fala explicitamente de Deus.

O versículo mais apropriado que encontrei para esta questão, bem como para qualquer outro assunto desta natureza, é o seguinte:
“ Todas as coisas são lícitas, mas nem todas convêm; todas são lícitas, mas nem todas edificam.” (1 Coríntios 10:23 RA)
Portanto, antes de “curtir” uma música, pergunte a si mesmo se ouvir tal música fará bem a você. Existem algumas músicas, principalmente as clássicas, que me fazem pensar mais em Deus do que a maioria das músicas gospel que conheço. Ao passo que existem algumas músicas gospel que não suporto.

Não é só porque uma música fala a respeito de Deus, que ela foi inspirada por Deus. E também não é só porque uma música não fala sobre Deus, que ela é do diabo. Certa vez ouvi um músico evangélico dizer o seguinte: “fazer música gospel é fácil, basta compor pra sua namorada e depois trocar o nome dela pelo de Jesus”. E ele não parecia estar brincando...

Uma palavra de advertência
Mas o apóstolo Paulo disse também: “todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas.” (1 Coríntios 6:12 ) Este alerta serve também para a música. Muitas pessoas, principalmente os mais jovens, passam a idolatrar os cantores ou grupos de sua preferência. Isto não é sadio. Quando uma coisa lícita se torna uma obsessão, ela deixa de ser conveniente, porque se tornou doentia.

Portanto, não mergulhe de cabeça na música secular. Cuidado com a sua sedução. Meu conselho é que você continue ouvindo louvores que edifiquem sua vida, mas que não se sinta culpado em gostar de determinada música que não seja evangélica, principalmente se ela, de alguma forma, faz bem a você.

Peça a Deus que lhe dê o discernimento entre o certo e o errado, entre o que lhe faz bem e o que lhe fará mal.

“ Porque nada podemos contra a verdade, senão em favor da própria verdade.” (2 Coríntios 13:8 RA)