quarta-feira, 8 de outubro de 2008

REVENDO MEUS CONCEITOS DE LIDERANÇA CRISTÃ


A Bíblia é surpreendente! Diariamente sou edificado por textos que falam direto ao meu coração. Mas a maior surpresa que a Bíblia me causou ocorreu há poucos dias atrás. Foi devido a uma palavra que nela não encontrei. Isso mesmo: por uma palavra que não encontrei. Por acaso você já foi surpreendido por aquilo que não encontrou na Bíblia?

Eu pretendia começar um estudo pessoal sobre liderança cristã. Como de costume, iniciei minha pesquisa através da busca de palavras chaves na própria Bíblia. Achei que seria uma boa idéia relacionar primeiro todos os textos em que aparecesse a palavra “líder”. Para ser mais rápido e exato, decidi encontrar aquelas passagens através do programa da Bíblia que tenho no computador. Esta é a maneira mais segura de se saber quantas vezes uma mesma palavra se repete na Bíblia. Portanto, digitei “líder” no campo de busca e, ao clicar “enter”, preparei-me para uma enorme listagem de referências bíblicas.

Contudo, que grande surpresa! O resultado da busca foi “zero”! Cheguei a pensar que eu tivesse digitado errado. Tentei novamente... Outra vez, nada. Tentei nas duas versões mais usadas da Bíblia, a de “Almeida Revista e Corrigida” e a “Revista e Atualizada”; em nenhuma delas aparece a palavra “líder”.

O mesmo aconteceu com a palavra “liderança”: absolutamente nenhuma referência bíblica. Quando tentei o plural “líderes”, surgiu apenas uma referência, e somente na versão Revista e Corrigida, em Isaías 29:10. E esta passagem se refere aos líderes dos videntes, que estavam cegos.

Mas, por que fiquei tão surpreso? Minha reação, que depois se transformou em indignação, se deve a enorme quantidade de livros evangélicos a respeito de “liderança cristã” e também a tendência de se fazer de cada crente um líder de alguma coisa na Igreja. Pergunto: como é que se pode dar tanta ênfase a um termo que sequer é mencionado na Bíblia? Como isto virou moda, não demorou muito para lançarem no mercado a "Bíblia da Liderança Cristã", com notas e artigos de John C. Maxwell, que declara, logo na introdução, que "Deus chamou você para liderar!"

Sei muito bem que o conceito de liderança existe na Bíblia e é amplamente encontrado em diversos textos. Mas eu me refiro a chamar as pessoas pelo título de líder. E, principalmente, refiro-me a ambição que existe em muitos crentes pela conquista de tal título.

Entretanto, como eu já suspeitava, versões mais “moderninhas” da Bíblia trazem, de fato, a palavra “líder”. Provavelmente, concluo, para se adequar ao modismo de liderança que se instalou nas igrejas evangélicas. É o caso da Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH). Mesmo assim, a palavra líder só aparece dez vezes no Novo Testamento; em duas delas, de forma pejorativa. Nas demais, três passagens se referem a Jesus, três aos fariseus, uma fala de Davi e outra de Moisés.

Porém, a passagem que mais me chamou a atenção nesta versão moderna, foi a seguinte:
“Vocês não devem também ser chamados de “líderes” porque vocês têm um líder, o Messias.” (Mateus 23:10 NTLH)

Vocês não devem ser chamados de líderes! Se alguém quiser usar a NTLH para justificar seu título, terá que “engolir” este versículo também. Quanto a obedecê-lo, tenho certeza de que poucos estarão dispostos.

Qual o problema de alguém ser chamado de líder? Prefiro responder a esta pergunta contando um testemunho pessoal.

Recentemente, passei por um problema de divisão em nossa igreja. Um grupo de irmãos decidiu sair e o fizeram da pior forma possível. Na verdade, só existem duas maneiras de uma ovelha mudar de congregação: a maneira certa, ou a errada. Muitas vezes alertei sobre isto. Mas, como percebo que as pessoas se esquecem, aproveito para relembrar: a maneira correta de se sair é recebendo a bênção de seu pastor.

Mas, o que vem ao caso, foi minha triste descoberta. Praticamente todos os pastores que me procuraram, a fim de me consolar, disseram a mesma coisa: “nossa igreja também já passou por isso.” Certo pastor, cujo ministério tem mais de 40 anos, chegou a dizer que enfrentara esta situação cerca de dez vezes. Na última, o líder de louvor havia saído e levado junto todos os jovens da igreja. Isso eu pude constatar pessoalmente. Só ficaram os adultos e, em sua maioria, idosos.

Por que as diversas denominações têm passado por este problema de divisão? Constatei que em todos os casos a divisão era promovida por pessoas com cargos de liderança na igreja. Geralmente, um ou mais líderes que saem da igreja, levando consigo os membros que trabalhavam em seus departamentos.

Aliás, diga-se de passagem, o termo “departamento” também é ausente das Escrituras. Esta expressão, tão usada nas igrejas atuais, não aparece nem mesmo na versão NTLH. E, quanto a palavra “ministério” (que é como algumas igrejas preferem chamar seus departamentos) apesar de aparecer na Bíblia, parece não ter a mesma conotação que lhe dão atualmente, quando se abusa do termo.

E, será que não reside justamente aí a raiz do problema? O modelo de igreja que está sendo adotado pela maioria não corresponde ao modelo bíblico. Quantos departamentos havia na igreja de Jerusalém? E na de Antioquia? Nem o livro de Atos e nem as epístolas mencionam qualquer tipo de idéia semelhante a esta.

As divisões que acontecem hoje estão muito longe de se parecer com as divergências que deram origem às grandes denominações cristãs. Antigamente, as divergências aconteciam por discordância doutrinária. Atualmente, as divisões acontecem por mera vaidade. Faz lembrar o levante de Coré, Datã e Abirão, que afrontaram Moisés, lhe dizendo: “Basta! Pois que toda a congregação é santa, cada um deles é santo, e o SENHOR está no meio deles; por que, pois, vos exaltais sobre a congregação do SENHOR?” (Números 16:3 RA)

Repito: a maioria das divisões que tem acontecido são geradas por vaidade. A história tem se repetido: o membro recebe um título de líder e acha que pode tomar decisões em seu departamento sem prestar contas ao pastor. Quando o pastor toma alguma decisão que não agrade ao líder, o mal estar começa. Os membros do departamento são influenciados pela sua liderança, geralmente em reuniões fora da igreja, e pronto! Na primeira oportunidade, o líder deixa a igreja – se fazendo de vítima – porque sabe que tem a simpatia dos membros do seu departamento. Tenho certeza que, se você é antigo no evangelho, já presenciou tal situação.

E, lamentavelmente, as divisões vão continuar acontecendo, dando início a ministérios que não conseguirão ir muito longe. A não ser que, o quanto antes, os pastores revejam seus conceitos quanto ao modelo bíblico de igreja.

Eu, particularmente, estou revendo meus conceitos de igreja. Tenho chegado a algumas conclusões, que compartilho a seguir:

O Líder supremo e absoluto da Igreja é o Senhor e Salvador Jesus Cristo. Cada pastor é apenas o seu representante e referencial na terra para as ovelhas do Senhor, revestido de autoridade para orientá-las espiritualmente. Não existe mais de uma autoridade em cada igreja. Existem serviços diferentes, mas autoridade é o pastor. O apóstolo Paulo deixa isto bem claro em suas epístolas, especialmente as pastorais (Tt 1:13, 2:15; 1 Tm 4:12; 2 Tm 4:2; etc.) Nomeando líderes o pastor termina por não fazer o seu serviço, e o seu cajado fica abandonado, ou na mão dos membros que ele mesmo envaideceu com lideranças.

Cada congregação deveria ter apenas um pastor. A idéia de pastor auxiliar ou adjunto é totalmente estranha às Escrituras. Admito a idéia de um segundo ou terceiro pastor, desde que estejam em treinamento para assumir outra congregação. Caso contrário, mais cedo ou mais tarde haverá choque. É inevitável. Para exemplificar: quando Moisés estava prestes a morrer, Deus ordenou que ele passasse o cajado para Josué. Apenas Josué. Por que não Josué e Calebe? Afinal, eram milhares de judeus para conduzir. Mas Deus escolheu apenas Josué para exercer aquela liderança.


O termo “líder” deveria ser extinto das igrejas. Além de fomentar a competição e facções entre os irmãos, o título de líder ainda trás o agravante de não ser jamais usado na Bíblia, especialmente no Novo Testamento (a não ser na deturpada versão NVI). O mesmo se dá com a idéia de “departamentos” ou “ministérios”, ou ainda de conjuntos para homens, mulheres, jovens e crianças. Além de tais conceitos serem estranhos às Escrituras, acabam por fazer do altar um palco de apresentações e, do culto, um programa de auditório.

Não é de se admirar que os pastores se pareçam cada vez menos com imitadores de Cristo e cada vez mais com animadores de festas.

Concluo, afirmando que nossa preocupação não deve ser imitar os modismos evangélicos, mas buscar o modelo bíblico para uma verdadeira igreja cristã. Respeito meus colegas e amigos que pensam diferente. Não tenho direito algum de me intrometer no sistema organizacional de sua denominação. Mas, aqui fica registrado este alerta e o meu ponto de vista. Tenho todo direito de ser diferente da maioria.

Não sei quanto a você, mas, quanto a mim, continuarei revisando meus conceitos à luz das Escrituras. Isto é altamente recomendável a todo cristão, especialmente neste tempo de grande apostasia.

“Porventura, procuro eu, agora, o favor dos homens ou o de Deus? Ou procuro agradar a homens? Se agradasse ainda a homens, não seria servo de Cristo.”
(Gálatas 1:10 RA)

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

ESCOLA DE IMPOSTOR?


Sou assinante da Revista Igreja, que deveria trazer informações importantes para o ministério pastoral contemporâneo. Mas fiquei bastante indignado ao receber a edição de junho/julho de 2008. O texto ressaltado acima refere-se a uma propaganda publicada pela revista, no qual destaco em vermelho a maneira absurda com a qual as igrejas são tratadas: como concorrentes!

O que mais impressiona é o fato de tal propaganda vir assinada por um seminário pastoral. E, ainda pior, trata-se da divulgação de um curso em dvd chamado "O Segredo para Ficar Rico". A impressão final, analisando a propaganda como um todo, é que abrir uma igreja seria o tal segredo para ficar rico!

Como pastor, quero deixar aqui o meu protesto. Ainda que hajam impostores se dizendo pastores, creio que são minoria. Mas, quando vejo um seminário fazer uma colocação como esta, fico bastante preocupado com tamanha deturpação do evangelho. Preocupa-me porque muitos estão fazendo escola com esta filosofia satânica!

A Igreja local, quando fiel ao evangelho de Cristo, é a esperança do mundo, razão pela qual precisamos de unidade, não de competição. Nossos membros são pessoas, não clientes, são seres vivos, e não produtos de mercado.

Mas eu não deveria ficar tão surpreso. A Bíblia relata que, nos últimos dias, fariam dos crentes negócio (2Pedro 2:3). Certamente já chegamos neste tempo.

Porém, não podemos aceitar isto passivamente. Transcrevo abaixo a carta que enviei por email para a redação da Revista Igreja.

Caso me respondam, o mínimo que espero como leitor e assinante desta revista, colocarei a resposta como comentário.


E-mail enviado para a Revista Igreja em 01 de Agosto de 2008


Prezados irmãos em Cristo,

Sou pastor sênior e assinante da Revista Igreja desde o seu início. Aprecio muito as matérias, que são muito edificantes. Quero parabenizá-los por isto. No entanto, na edição de nº 16, creio que houve um descuido muito grave. Uma propaganda que vocês publicaram está causando espanto e indignação entre nós, cristãos, pela forma depreciativa e injuriosa com que trata as igrejas. O que mais lamentamos, é que os responsáveis se colocam como uma "escola de pastores".

Trata-se de uma propaganda de página inteira impressa na página 5, cujo título é Curso de Auto Ajuda. Entre outras colocações ofensivas, a que mais causou indignação, não apenas em mim, mas em vários outros pastores e irmãos, foi a seguinte:

"Igreja que não apresenta ministração de auto-ajuda e motivação tende a perder os membros para a concorrente"

Perguntamos: Desde quando as igrejas são concorrentes? Igreja agora é comércio? Pessoas por acaso são produtos, ou clientes?

Além do mais, tal colocação incentiva a competição entre as denominações e prejudica nosso ideal de unidade, tão almejado em nossos Congressos, como o Voe Mais Alto, entre outros que participo.

Sem falar da impressão negativa que os descrentes terão ao ler uma frase tão deprimente quanto a que destaquei acima. Nós, pastores, já somos muito caluniados para que uma propaganda "evangélica" venha manchar ainda mais nossa reputação. Quero lembrar que o título do curso de tal propaganda é "O Segredo para Ficar Rico". Isto dá a impressão de que os pastores abrem igrejas com o fim de enriquecerem. É lamentável.

Gostaríamos de saber se a revista Igreja corrobora de tal filosofia, para que saibamos se devemos continuar ou não sendo assinantes. Pois, a partir do momento em que tal texto é publicado na revista que vocês editam, ainda que seja somente uma propaganda, seus editores se tornam coniventes com tal linha de pensamento. Prefiro crer que vocês tem ética e temor de Deus, como sempre me pareceu. Prefiro crer que o texto de tal propaganda não foi lido pelos responsáveis pela revista. E, mais ainda, espero que a tal "escola de pastor", idealizadora desta propaganda, seja mais cuidadosa em suas colocações e notificada de nosso protesto. A não ser que se trate de uma "escola de impostor", eles certamente se darão conta da gravidade do erro e haverá uma retratação, que será muito bem recebida pelo povo de Deus.

Na certeza de uma resposta, queremos desde já lhes agradecer pela atenção.

Que Deus continue lhes abençoando cada dia mais!


Em Cristo,

Pr. Alan Capriles

Leitor e assinante da Revista Igreja

(em nome também de outros pastores que desejam continuar sendo leitores da revista Igreja)


"Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição. Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores. Tu, porém, ó homem de Deus, foge destas coisas; antes, segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a constância, a mansidão." (1 Timóteo 6:9-11 RA)


"E muitos seguirão as suas práticas libertinas, e, por causa deles, será infamado o caminho da verdade; também, movidos por avareza, farão comércio de vós, com palavras fictícias; para eles o juízo lavrado há longo tempo não tarda, e a sua destruição não dorme." (2 Pedro 2:2-3 RA)

quarta-feira, 9 de julho de 2008

POR QUE, MAMÃE?

"Por que, mamãe? Por que, mamãe?" - Estas foram as últimas palavras do menino João Roberto, de apenas 3 anos, quando sua mãe mandou que ele se jogasse ao chão do carro. João Roberto foi mais uma vítima inocente da violência que assola o Rio de Janeiro.
Atingido na cabeça por um dos disparos, o que mais nos impressiona é que, desta vez, não fora bala perdida, mas intencional. O carro de sua família, confundido com outro que havia sido roubado minutos antes, foi alvejado numa desastrosa abordagem policial. O tiro que matou João Roberto foi disparado por aqueles que deveriam lhe dar segurança! Compreendo que os policiais vivem numa grande tensão, enfrentando marginais que, além de estarem em maior número, se utilizam de armamento pesado e estão mais bem equipados que o próprio exército. Mas o que não posso compreender é um erro de tamanha gravidade.

Concordo com o desabafo do pai de João Roberto: "eu não tenho culpa se bandido está matando polícia... eu não posso pagar por essa sociedade podre que eles construíram..." E, quantos mais terão que pagar por isso?

Eu também sou pai e faço idéia da dor e revolta desta família. Se de alguma forma este artigo for lido por alguém que os conheça, peço que lhes digam o quanto este pastor lamenta e está orando para que tamanha dor seja minimizada. Mas peço que lhes transmitam também o seguinte recado: Deus não é o culpado por tamanha tragédia. Repito: Deus não é o culpado.

Temos o direito, e até o dever, de nos revoltarmos contra políticos e autoridades que só sabem prometer e depois desviar as verbas públicas. Mas não temos o direito de culpar Deus pelas mazelas que nossa própria sociedade criou. Se tudo que nos acontece fosse a vontade de Deus, o Senhor Jesus não teria nos ensinado a orar pedindo "seja feita a sua vontade". (Mt 6:10) Ora, se precisamos pedir que Deus intervenha em nossas vidas, obviamente nem tudo que acontece foi por sua vontade.

Querido leitor, não culpe Deus pelas tragédias que já aconteceram em sua vida, ou na vida daqueles a quem você ama. Mas, além de Deus não ser o culpado, nós ainda podemos fazer algo para mudar esta situação.

O que podemos fazer? Cheguei a conclusão de que há uma única entidade que tem o poder de mudar verdadeiramente para melhor uma sociedade. A esperança não está na polícia, ou nos políticos, ou na mudança das leis. A saída não está em melhores métodos, mas em melhores homens. E esta transformação na alma, só Deus pode fazer. E justamente esta é a missão da igreja, transformar o mundo pela mensagem do evangelho! (Mt 28:19-20)

Somente a Igreja, com sua mensagem de transformação em Cristo, tem o poder de mudar nossa sociedade. A maioria de nossos irmãos em Cristo tem um drástico "antes e depois" para compartilhar. Nossa igreja é composta de ex-marginais, ex-viciados, ex-espancadores, entre outros. Confesso que nunca fui nada disso, mas eu sou um ex-perdido, que achava que seria salvo por minhas próprias boas obras. Mas um dia fui alcançado pela mensagem do evangelho, que me salvou de minha falsa humildade e oculta soberba.

Da mesma forma, só a mensagem do evangelho pode transformar nossa sociedade. (Rm 1:16) Precisamos compartilhar do amor de Deus, da salvação de Cristo, do poder transformador do Espírito Santo. O mundo está precisando de verdadeiros cristãos, que não fiquem perdendo tempo com discussões teológicas, mas que desejem ser imitadores de Cristo.

Há tantos por se converter ainda... Como pastor, estou empenhado em preparar obreiros que se pareçam com Cristo e em abrir o maior número de igrejas possíveis, a fim de que alcancemos o máximo de pessoas com a mensagem transformadora do evangelho.

Voltando à trágica história mencionada no início: se aquele assaltante fosse convertido a Jesus, não teria havido aquela ocorrência. Se aqueles policias fossem convertidos a Jesus, eles não teriam chegado atirando. Se a Igreja se preocupasse mais com a evangelização dos perdidos, talvez o pequeno João Roberto estivesse vivo agora. Mas suas últimas palavras ainda continuam ecoando, perplexas e sem resposta: Por que, mamãe?


“E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” (Romanos 12:2 RC)

segunda-feira, 23 de junho de 2008

OS EVANGÉLICOS E A MÚSICA

Entendo a música como uma expressão artística sensacional, que inspira e nos permite extravasar nossas emoções e sentimentos. Até mesmo um ateu convicto, como Nietzsche, percebeu que “a vida sem a música seria um erro.” Mas, pessoalmente, creio que Deus foi não apenas o criador das notas musicais e dos ritmos, mas também é dele que vem o talento de todos os compositores e músicos. O que cada um fará com os talentos que Deus lhe deu já é outra questão.

O tabu
Mas, ao contrário de outras expressões de arte, como a poesia e a pintura, por exemplo, a música tornou-se um dos maiores tabus dentro no meio evangélico. Se um crente comprar um quadro de um artista não cristão, ou ler um livro de Machado de Assis, por exemplo, ninguém o condenará por isso. Mas, se ele deliberadamente ouvir uma música não evangélica, o irmão está se “desviando” – é como julgam. Não é assim que acontece na maioria das igrejas?

Para grande parte dos evangélicos, se uma música não fala de Deus, provavelmente esta canção é do diabo. Há um preconceito contra qualquer cantor ou grupo que não seja “gospel”. Interessante é que o mesmo critério não é usado para os filmes de cinema ou televisão. Lembro de eu estar almoçando com um pastor, que me recomendava com entusiasmo o filme Titanic, que estava em cartaz no cinema. Ele ainda sugeriu que levasse a juventude da igreja comigo. Não há problema nenhum nisto... Mas daí surge uma questão: por que seria pecado comprar o cd de Celine Dion, mas não seria igualmente pecado ouvi-la cantar durante as cenas românticas de Titanic? Será que a música deixa de ser música quando está inserida nos filmes?

A hipocrisia
O pecado que Jesus combateu com maior veemência foi o da hipocrisia. E a maioria dos evangélicos é hipócrita quando o assunto é música. Por que seria pecado ouvir música secular, mas não seria pecado assistir a um filme secular? Afinal de contas, aquilo que vemos causa muito maior influência do que aquilo que ouvimos. Eu não conheço nenhum crente que não assista filmes na TV de vez em quando. Mas conheço uma porção que condena ferozmente a música secular. Alguém consegue me explicar isto?

Estou cansado desta hipocrisia. Durante muito tempo não questionei este tipo de atitude incoerente, e até agi assim, influenciado pela maioria dos crentes. Mas decidi que está na hora de questionar certas doutrinas que nada mais são que fardos pesados e inúteis.

Quero deixar claro aqui o meu posicionamento em relação a música. Para simplificar, disponho-me a responder a três perguntas que podem parecer ridículas, mas que no meio evangélico são essenciais:

1º) Ouvir música secular é pecado?
A palavra pecado significa “errar o alvo”, ou seja, desagradar a Deus. O que desagrada a Deus? Se você é uma pessoa com o mínimo de discernimento, será capaz de selecionar entre uma música e outra.
Há músicas que promovem o sexo ilícito, o uso de drogas, a rebeldia, entre outras atitudes condenadas claramente na Bíblia. Obviamente, decidir ouvir tais músicas pode tornar-se um pecado, pois a mensagem que elas contêm é pecaminosa. Comprar, por exemplo, o cd de um grupo ou cantor que faça apologia às drogas é patrocinar o crime e ser conivente com seu erro.
Por outro lado, há outras músicas que são simplesmente poesia. Assim como não há nenhum problema em ler um poema, não há problema algum em ouvir música secular que não promova o pecado. Algumas músicas também fazem críticas positivas contra a desigualdade, o preconceito racial e a corrupção. Também não vejo mal algum em ouvir tais canções, desde que não promovam a violência.

2º) Existe ritmo de Deus e ritmo do diabo?
Claro que não. Simplesmente existem ritmos que acalmam, ritmos que agitam, e ritmos que perturbam. No entanto, o que para alguém é perturbação, para outro é uma tremenda curtição. Ritmo é questão de gosto pessoal.
Mas, se queremos agradar a Deus, precisamos tomar cuidado com a influência do ritmo de certas músicas. Há ritmos que induzem a violência, e outros que induzem a uma dança sensual. Neste caso, devemos evitar ouvir tais músicas, porque a sensualidade é claramente condenada na Bíblia.

3º) É pecado tocar ou cantar música não evangélica?
Depende daquilo que se está tocando ou cantando. Mais uma vez, trata-se de uma questão de bom-senso.
Há certos compositores e cantores que são adeptos de seitas malignas. Sabendo disto, é desaconselhável que se cante ou toque suas músicas. Recentemente soube de uma cantora muito famosa que, diante de uma multidão de fãs, incorporou uma entidade maligna durante um show.
No entanto, se tanto a letra quanto o ritmo não induzem ao pecado, e não provém do maligno, não vejo nenhum mal em tocar ou cantar uma música não evangélica.

Farão comércio de vós
A quem interessa que os cristãos só ouçam a chamada música gospel? Quem sai lucrando com isto? Precisamos ter cuidado, para não sermos manipulados por aqueles que nos vêem como fonte de lucro. A respeito destes últimos dias, o apóstolo Pedro profetizou:
“movidos por avareza, farão comércio de vós, com palavras fictícias; para eles o juízo lavrado há longo tempo não tarda, e a sua destruição não dorme.” (2 Pedro 2:3 RA)
O que é realmente errado? Ouvir música não cristã, ou tirar R$3.000,00 das ofertas para pagar o cachê de um cantor evangélico? Este é o valor mínimo que uma “estrela” gospel cobra para cantar em sua igreja. Conheço um pastor que convocou os jovens para vender alho no sinal de trânsito a fim de que pudessem pagar o cachê de uma cantora famosa.

E, por conivência de muitos pastores, as ovelhas continuam sendo exploradas e o mercado da música gospel está cada vez mais lucrativo...

O ponto de equilíbrio
O principal motivo para eu expor minha opinião é fazer com que todos meditem seriamente a respeito do assunto. Especialmente se você for cristão. Examine as Escrituras. Desafio você a encontrar algum texto que condene ou proíba uma música só porque ela não fala explicitamente de Deus.

O versículo mais apropriado que encontrei para esta questão, bem como para qualquer outro assunto desta natureza, é o seguinte:
“ Todas as coisas são lícitas, mas nem todas convêm; todas são lícitas, mas nem todas edificam.” (1 Coríntios 10:23 RA)
Portanto, antes de “curtir” uma música, pergunte a si mesmo se ouvir tal música fará bem a você. Existem algumas músicas, principalmente as clássicas, que me fazem pensar mais em Deus do que a maioria das músicas gospel que conheço. Ao passo que existem algumas músicas gospel que não suporto.

Não é só porque uma música fala a respeito de Deus, que ela foi inspirada por Deus. E também não é só porque uma música não fala sobre Deus, que ela é do diabo. Certa vez ouvi um músico evangélico dizer o seguinte: “fazer música gospel é fácil, basta compor pra sua namorada e depois trocar o nome dela pelo de Jesus”. E ele não parecia estar brincando...

Uma palavra de advertência
Mas o apóstolo Paulo disse também: “todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas.” (1 Coríntios 6:12 ) Este alerta serve também para a música. Muitas pessoas, principalmente os mais jovens, passam a idolatrar os cantores ou grupos de sua preferência. Isto não é sadio. Quando uma coisa lícita se torna uma obsessão, ela deixa de ser conveniente, porque se tornou doentia.

Portanto, não mergulhe de cabeça na música secular. Cuidado com a sua sedução. Meu conselho é que você continue ouvindo louvores que edifiquem sua vida, mas que não se sinta culpado em gostar de determinada música que não seja evangélica, principalmente se ela, de alguma forma, faz bem a você.

Peça a Deus que lhe dê o discernimento entre o certo e o errado, entre o que lhe faz bem e o que lhe fará mal.

“ Porque nada podemos contra a verdade, senão em favor da própria verdade.” (2 Coríntios 13:8 RA)