quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

AS 12 RAZÕES PARA ELIMINAR O ENTRETENIMENTO EM SUA IGREJA

Por Alan Capriles

Sei que o entretenimento está tão enraizado na cultura evangélica, que parecerá um absurdo a tese que defendo. Mas, além de não estar sozinho na luta contra o "culto show", estou ainda muito bem acompanhado, por pastores renomados, como Charles Haddon Spurgeon, que no século XIX já havia escrito sobre este perigo, alertando que o fermento diabólico do entretenimento acabaria levedando toda a massa em curto espaço de tempo. E é neste estado de lastimável fermentação que se encontra a massa evangélica atual.

Hoje em dia é quase impossível que uma igreja não tenha conjuntos musicais, ou corais, ou grupos de coreografia, ou cantores para se apresentar durante o culto e nos eventos por ela realizados. Na maioria das igrejas o período de culto é tomado deste tipo de apresentações, com a desculpa de que "é pra Jesus". Mas, quando analisamos racionalmente, e a luz das Escrituras, a verdade é que tais apresentações não passam de entretenimento, com verniz de santidade e capa de religiosidade.

Que ninguém fique ofendido. Eu mesmo gostaria que alguém houvesse me alertado disso na época em que eu, cegamente, gastava horas com ensaios de conjuntos e de peças teatrais. E eu me convencia de que isto era a obra de Deus.

Mas, no fundo de meu coração, eu sabia que havia algo de errado, que não era nisto que Jesus esperava que seus discípulos se focassem, ou se esforçassem. Como ninguém me despertou, busquei a Deus em oração e o próprio Espírito Santo, por meio das Escrituras, convenceu-me do meu erro.

Desde então, tenho meditado tão seriamente a respeito disto, que encontrei mais de dez razões para eliminar por completo o entretenimento dos cultos na igreja que pastoreio. E já o fizemos! Substituimos o tempo que antes gastávamos com ensaios entre quatro paredes, pelo evangelismo bíblico na comunidade e pela oração nos lares. E, quanto às apresentações nos cultos... sinceramente, não estão fazendo a menor falta.

Mas, vejamos porque o entretenimento deve ser eliminado dos cultos que realizamos ao Senhor:

1 - O Senhor nunca ordenou entreter as pessoas
Esta já seria uma razão suficiente, que dispensaria os demais argumentos. O problema é que raramente se encontra hoje uma igreja que queira ser bíblica, composta por membros que só desejem cumprir a vontade de Deus, expressa em sua Palavra. Assim sendo, talvez seja necessário ainda os argumentos a seguir.

2 - Entretenimento não atrai ovelhas
Chamemos de ovelhas aqueles que realmente amam a Jesus, que reconhecem a voz do Senhor e o seguem (Jo 10:27). No entanto, a divulgação de apresentações na igreja dificilmente atrairá pessoas interessadas em Deus. Certamente será um atrativo para as que gostam de uma distração gratuita. Mas, podemos chamar a estas pessoas de ovelhas, ou não há uma grande chance de serem bodes? (Mt 25:32-33)

3 - Entretenimento afasta as ovelhas
As verdadeiras ovelhas não se satisfazem com apresentações durante o culto. Elas querem oração e palavra, edificação e unção. Uma ovelha de Cristo não procura emoções, mas a Verdade, para que se mantenha firme no caminho da vida eterna (Jo 6:67). Quanto mais o pastor encher o culto com apresentações, mais rápido as ovelhas sairão em busca de uma verdadeira igreja, que priorize a oração e a palavra de Deus. Aos poucos, a "igreja-teatro" deixará de ter ovelhas para estar ainda mais cheia, porém de bodes, que gostam de uma boa distração. E, infelizmente, o que muitos pastores buscam hoje é quantidade, o crescimento a qualquer custo. E, com este fermento, a massa realmente cresce...

4 - Entretenimento reduz o tempo de oração e palavra
O tempo de culto já é muito limitado, chegando a no máximo duas horas. Quando se dá oportunidade para apresentações, o tempo que deveria ser usado para se fazer orações e se pregar a palavra de Deus torna-se curtíssimo. Em algumas igrejas não chega nem a trinta minutos! Como desenvover uma mensagem expositiva em tão curto espaço de tempo?

5 - Entretenimento confunde os visitantes
Os visitantes concluem que a igreja existe em função disto: conjuntos, corais, coreografias, peças teatrais, ou qualquer outro tipo de apresentação que torne o culto um show. E eles passam a frequentar os cultos com esta expectativa, esperando pelo próximo espetáculo.

6 - Entretenimento ilude os membros
O membro pensam que está servindo a Deus com suas apresentações. Desta forma, sua consciência fica cauterizada para atender aos chamados para a escola bíblica, para o evangelismo e para socorrer os carentes. Afinal de contas, ele pensa que seu chamado é para as artes, e não para serviços que não lhe colocam debaixo dos holofotes (que, aliás, são muito comuns nas igrejas hoje em dia).

7 - Entretenimento é um desgaste desnecessário
Quanto esforço é despendido para que tudo saia perfeito! Uma energia que é gasta naquilo que o Senhor nunca mandou fazer! Será que ainda sobram forças para se fazer o que realmente o Senhor manda? (Lc 6:46)

8 - Entretenimento coloca os carnais em destaque
Pessoas que raramente aparecem nos cultos de oração e estudo bíblico, e que nunca comparecem ao evangelismo, geralmente são as mesmas que gostam de aparecer cantando, dançando ou representando nos cultos mais cheios. A questão é: Por que dar destaque justamente para estes membros carnais?

9 - Entretenimento promove disputas
Disputas entre membros, entre conjuntos e até entre igrejas. Quem canta melhor? Quem dança melhor? Que conjunto tem o uniforme mais bonito? Quem recebeu mais oportunidade? Quanta medíocre carnalidade... (1 Co 3:3; Tg 4:1)

10 - Entretenimento alimenta o ego
O entretenimento não gera fé, mas fortalece o ego dos que amam os aplausos e elogios. Apesar de sua roupagem "gospel", o fermento dos fariseus continua tão venenoso quanto nos dias de Jesus (Mt 23:5-6; Lc 12:1)

11 - Entretenimento é um desperdício de tempo
Se o mesmo tempo que as igrejas gastam com ensaios e apresentações fosse utilizado com oração e evangelismo, este mundo já teria sido alcançado para o Senhor! (Ef 5:15-17)

12 - Entretenimento não é fazer a obra de Deus
A desculpa para o entretenimento é que este seria uma forma de atrair as pessoas. Mas a questão novamente é: que tipo de pessoas? Se entretenimento fosse uma boa alternativa, não teria a igreja apostólica usado de entretenimento para atrair as multidões? No entanto, ela simplesmente pregava o evangelho, porque sabia que nele há poder. O evangelho "é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê" (Rm 1:16). Mas o entretenimento... O entretenimento é a artimanha do homem para a perdição de todo aquele que duvida.

Quero concluir com uma palavra aos pastores. De pastor, para pastor. Amado colega de ministério, não duvide do poder do evangelho para atrair e converter as pessoas. Não queira encher sua igreja com atividades vazias e atraentes ao mundo, mas que não tem o poder do Espírito Santo para converter vidas. Tenha coragem e limpe sua congregação desta imundície egocêntrica. Talvez com isto você perderá alguns membros, mas não perderá ovelhas, somente bodes. Tenha fé em Deus e confie no modelo bíblico para encher a igreja, que é a oração, o bom testemunho e a pregação ousada do genuíno evangelho de Cristo. Lembre-se que "enquanto os homens procuram melhores métodos, Deus procura melhores homens."

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

EVENTO OU... É VENTO?

Por Alan Capriles

São Gonçalo, município do estado do Rio de Janeiro, é considerado por muitos como a cidade brasileira com o maior número de igrejas por metro quadrado. São tantas as diferentes denominações (e algumas demoniações) que não é raro encontrarmos uma igreja em frente da outra, ou mesmo ao lado, compartilhando da mesma parede, mas disputando decibéis e membros infiéis.

Por ser assim tão grande o número de congregações, vejo São Gonçalo como uma espécie de proveta, um tubo de ensaio do que deve ou deverá acontecer em breve por todo território nacional. Ora, as estatísticas apontam que o crescimento do número de igrejas evangélicas no Brasil é um fenômeno colossal, a ponto de despertar a curiosidade dos mais renomados estudiosos acerca do assunto. Desta forma, em pouco tempo haverá tantas igrejas pelo país quanto bares nas esquinas, coisa que já acontece em São Gonçalo.

A princípio, parece ótimo. Mas, observe: haverá "tantas quanto", e não "tantas no lugar de", ou seja, os bares continuam lá, porque o que está acontecendo em São Gonçalo e em todo território brasileiro não é um avivamento. Todos sabemos que um genuníno avivamento é caracterizado pelo impacto causado na sociedade. Por exemplo, conta-se que certo viajante atravessava uma cidade da Nova Inglaterra e perguntou a um morador onde poderia encontrar um bar para beber e se descontrair. O morador respondeu: "não há mais bares em nossa cidade, porque há 100 anos atrás John Wesley andou pregando por aqui." Aquela cidade sim, havia experimentado um verdadeiro avivamento.

E o que acontecerá no país quando houver tantas igrejas quanto bares?

A resposta é: o que já está acontecendo em São Gonçalo! As igrejas disputando membros, assim como os bares disputam a clientela.

Obviamente, esta disputa acontece de maneira velada, discreta. E de que forma ela acontece? Aqui em São Gonçalo, tubo de ensaio do evangelicalismo nacional, uma igreja é avaliada pela popularidade e quantidade de seus eventos. Uma igreja é avaliada entre o povo e, principalmente, entre os crentes pelo número de Festivais, Congressos, Louvorzões, Vigílias (que de oração não tem é nada) entre muitas outras formas de entretenimento.

Tais eventos precisam ter uma leve maquiagem cristã, como um versículo bíblico no cartaz, para não transparecer suas reais intenções: atrair os membros de outras igrejas. E, claro que não são atraídos pelo versículo, mas pelo cantor ou pregador famoso que lá estará. A presença deste é garantida pelo pagamento de um alto cachê, geralmente com adiantamento, coisa que só igreja grande pode fazer.

Mas, e as outras, que não podem pagar? Há duas alternativas. Colocam seus membros para vender os cds do cantor semanas antes do evento (e nisto há duas infrações: trabalho escravo e sonegação de impostos) ou então criam formas alternativas de arrecadar dinheiro. Por exemplo, conheço um pastor que convenceu os jovens a vender alho no sinal de trânsito, durante mais de um mês, a fim de pagar o cachê da cantora Pâmela, que iria se apresentar no Congresso de jovens.

Outra forma de garantir a presença de membros de outras igrejas é a tal da "oportunidade". Envia-se a carta convite, encaminhada ao líder do ministério que se pretende dar a oportunidade. Sendo assim, tal ministério precisa ter um conjunto bem ensaiado, porque, ao atender o convite, eles irão receber a tal da "oportunidade". Por isso, aqui em São Gonçalo, praticamente todas as igrejas precisam ter diversos conjuntos: masculino (para se apresentar no congresso de varões), conjunto feminino, de jovens, de adolescentes e de crianças. A coisa é tão séria, que se uma igreja não tiver seus conjuntos, ela é desprezada pelas demais e vista com desconfiança pela comunidade. Ora, aqui em São Gonçalo, igreja sem conjunto não é igreja.

Outro dia, estava conversando com um pastor e ele me contava de seu esgotamento espiritual. Ingenuamente, imaginei que fosse pelo excesso de pregações, ou de aconselhamentos, ou de visitas pastorais, ou mesmo de intercessões a favor dos santos. Mas, não! Ele estava esgotado pelo gerenciamento de inúmeros eventos que sua igreja realizou no último ano. Seu esgotamento não era espiritual, mas simplesmente físico...

Meu conselho para aquele amigo foi lembrá-lo de que nós, como pastores, um dia prestaremos contas ao Senhor não apenas de nossa vida pessoal, mas também de como conduzimos as suas ovelhas. Ele não nos cobrará o número de eventos que realizamos, mas o número de almas que ganhamos e mantivemos em santidade e amor, dando frutos de uma vida regenerada em Cristo, para glória exclusiva do próprio Deus.

Quase choro quando percebo que somente naquele grande Dia, quando os livros se abrirem, é que muitos dar-se-ão conta de que tanto desgaste evangélico, com ensaios e apresentações egocêntricas, não significaram nada. Absolutamente nada! Tudo isto será reduzido a pó e cinzas. Pelo simples fato de que o evangelho de Cristo não tem nada haver com tais espetáculos. Nosso Senhor nunca nos mandou realizar tais coisas, e nem mesmo sombra de tais eventos havia na igreja apostólica, na qual devemos nos espelhar.

Falo com propriedade a respeito do assunto porque já fiz parte deste sistema. Apesar de nunca termos chamado ninguém famoso, nossa igreja mantinha seus conjuntos e grupos de coreografia sempre a postos, a fim de atender aos convites ou se apresentarem nos muitos eventos da casa.

Mas um dia o Senhor me despertou. E, como pastor, precisei decidir entre agradar a Deus, ou aos homens. Ora, para um verdadeiro servo de Cristo obedecer a Deus não é uma decisão difícil. Por causa da minha decisão, alguns membros me abandonaram, outros disseram que eu deveria ter me preocupado mais em como eles se sentiriam, mas "se eu estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo." Minha preocupação é como o Senhor se sente em relação a sua Igreja, porque um dia prestarei contas de como conduzi suas ovelhas.

Não espere o juízo final para se arrepender de tanto ativismo inútil. Será tarde demais. Acorde agora para o fato de que o que está por trás de tais eventos é o ego decaído, que deseja somente se divertir e aparecer. Ou ainda pior, o que está mesmo por trás é o próprio diabo, desviando a atenção dos crentes daquilo que realmente importa: a fervorosa oração, a genunína Palavra e a compaixão pelas almas perdidas.

Se não acordarmos agora, temo que será realmente tarde demais. Não sobrará nada de sólido e duradouro deste período da igreja, caracterizado somente por tantos e tantos eventos. Porque, biblicamente falando, no fim das contas, e aos olhos de Deus:
evento, é vento.