quarta-feira, 8 de outubro de 2008

REVENDO MEUS CONCEITOS DE LIDERANÇA CRISTÃ


A Bíblia é surpreendente! Diariamente sou edificado por textos que falam direto ao meu coração. Mas a maior surpresa que a Bíblia me causou ocorreu há poucos dias atrás. Foi devido a uma palavra que nela não encontrei. Isso mesmo: por uma palavra que não encontrei. Por acaso você já foi surpreendido por aquilo que não encontrou na Bíblia?

Eu pretendia começar um estudo pessoal sobre liderança cristã. Como de costume, iniciei minha pesquisa através da busca de palavras chaves na própria Bíblia. Achei que seria uma boa idéia relacionar primeiro todos os textos em que aparecesse a palavra “líder”. Para ser mais rápido e exato, decidi encontrar aquelas passagens através do programa da Bíblia que tenho no computador. Esta é a maneira mais segura de se saber quantas vezes uma mesma palavra se repete na Bíblia. Portanto, digitei “líder” no campo de busca e, ao clicar “enter”, preparei-me para uma enorme listagem de referências bíblicas.

Contudo, que grande surpresa! O resultado da busca foi “zero”! Cheguei a pensar que eu tivesse digitado errado. Tentei novamente... Outra vez, nada. Tentei nas duas versões mais usadas da Bíblia, a de “Almeida Revista e Corrigida” e a “Revista e Atualizada”; em nenhuma delas aparece a palavra “líder”.

O mesmo aconteceu com a palavra “liderança”: absolutamente nenhuma referência bíblica. Quando tentei o plural “líderes”, surgiu apenas uma referência, e somente na versão Revista e Corrigida, em Isaías 29:10. E esta passagem se refere aos líderes dos videntes, que estavam cegos.

Mas, por que fiquei tão surpreso? Minha reação, que depois se transformou em indignação, se deve a enorme quantidade de livros evangélicos a respeito de “liderança cristã” e também a tendência de se fazer de cada crente um líder de alguma coisa na Igreja. Pergunto: como é que se pode dar tanta ênfase a um termo que sequer é mencionado na Bíblia? Como isto virou moda, não demorou muito para lançarem no mercado a "Bíblia da Liderança Cristã", com notas e artigos de John C. Maxwell, que declara, logo na introdução, que "Deus chamou você para liderar!"

Sei muito bem que o conceito de liderança existe na Bíblia e é amplamente encontrado em diversos textos. Mas eu me refiro a chamar as pessoas pelo título de líder. E, principalmente, refiro-me a ambição que existe em muitos crentes pela conquista de tal título.

Entretanto, como eu já suspeitava, versões mais “moderninhas” da Bíblia trazem, de fato, a palavra “líder”. Provavelmente, concluo, para se adequar ao modismo de liderança que se instalou nas igrejas evangélicas. É o caso da Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH). Mesmo assim, a palavra líder só aparece dez vezes no Novo Testamento; em duas delas, de forma pejorativa. Nas demais, três passagens se referem a Jesus, três aos fariseus, uma fala de Davi e outra de Moisés.

Porém, a passagem que mais me chamou a atenção nesta versão moderna, foi a seguinte:
“Vocês não devem também ser chamados de “líderes” porque vocês têm um líder, o Messias.” (Mateus 23:10 NTLH)

Vocês não devem ser chamados de líderes! Se alguém quiser usar a NTLH para justificar seu título, terá que “engolir” este versículo também. Quanto a obedecê-lo, tenho certeza de que poucos estarão dispostos.

Qual o problema de alguém ser chamado de líder? Prefiro responder a esta pergunta contando um testemunho pessoal.

Recentemente, passei por um problema de divisão em nossa igreja. Um grupo de irmãos decidiu sair e o fizeram da pior forma possível. Na verdade, só existem duas maneiras de uma ovelha mudar de congregação: a maneira certa, ou a errada. Muitas vezes alertei sobre isto. Mas, como percebo que as pessoas se esquecem, aproveito para relembrar: a maneira correta de se sair é recebendo a bênção de seu pastor.

Mas, o que vem ao caso, foi minha triste descoberta. Praticamente todos os pastores que me procuraram, a fim de me consolar, disseram a mesma coisa: “nossa igreja também já passou por isso.” Certo pastor, cujo ministério tem mais de 40 anos, chegou a dizer que enfrentara esta situação cerca de dez vezes. Na última, o líder de louvor havia saído e levado junto todos os jovens da igreja. Isso eu pude constatar pessoalmente. Só ficaram os adultos e, em sua maioria, idosos.

Por que as diversas denominações têm passado por este problema de divisão? Constatei que em todos os casos a divisão era promovida por pessoas com cargos de liderança na igreja. Geralmente, um ou mais líderes que saem da igreja, levando consigo os membros que trabalhavam em seus departamentos.

Aliás, diga-se de passagem, o termo “departamento” também é ausente das Escrituras. Esta expressão, tão usada nas igrejas atuais, não aparece nem mesmo na versão NTLH. E, quanto a palavra “ministério” (que é como algumas igrejas preferem chamar seus departamentos) apesar de aparecer na Bíblia, parece não ter a mesma conotação que lhe dão atualmente, quando se abusa do termo.

E, será que não reside justamente aí a raiz do problema? O modelo de igreja que está sendo adotado pela maioria não corresponde ao modelo bíblico. Quantos departamentos havia na igreja de Jerusalém? E na de Antioquia? Nem o livro de Atos e nem as epístolas mencionam qualquer tipo de idéia semelhante a esta.

As divisões que acontecem hoje estão muito longe de se parecer com as divergências que deram origem às grandes denominações cristãs. Antigamente, as divergências aconteciam por discordância doutrinária. Atualmente, as divisões acontecem por mera vaidade. Faz lembrar o levante de Coré, Datã e Abirão, que afrontaram Moisés, lhe dizendo: “Basta! Pois que toda a congregação é santa, cada um deles é santo, e o SENHOR está no meio deles; por que, pois, vos exaltais sobre a congregação do SENHOR?” (Números 16:3 RA)

Repito: a maioria das divisões que tem acontecido são geradas por vaidade. A história tem se repetido: o membro recebe um título de líder e acha que pode tomar decisões em seu departamento sem prestar contas ao pastor. Quando o pastor toma alguma decisão que não agrade ao líder, o mal estar começa. Os membros do departamento são influenciados pela sua liderança, geralmente em reuniões fora da igreja, e pronto! Na primeira oportunidade, o líder deixa a igreja – se fazendo de vítima – porque sabe que tem a simpatia dos membros do seu departamento. Tenho certeza que, se você é antigo no evangelho, já presenciou tal situação.

E, lamentavelmente, as divisões vão continuar acontecendo, dando início a ministérios que não conseguirão ir muito longe. A não ser que, o quanto antes, os pastores revejam seus conceitos quanto ao modelo bíblico de igreja.

Eu, particularmente, estou revendo meus conceitos de igreja. Tenho chegado a algumas conclusões, que compartilho a seguir:

O Líder supremo e absoluto da Igreja é o Senhor e Salvador Jesus Cristo. Cada pastor é apenas o seu representante e referencial na terra para as ovelhas do Senhor, revestido de autoridade para orientá-las espiritualmente. Não existe mais de uma autoridade em cada igreja. Existem serviços diferentes, mas autoridade é o pastor. O apóstolo Paulo deixa isto bem claro em suas epístolas, especialmente as pastorais (Tt 1:13, 2:15; 1 Tm 4:12; 2 Tm 4:2; etc.) Nomeando líderes o pastor termina por não fazer o seu serviço, e o seu cajado fica abandonado, ou na mão dos membros que ele mesmo envaideceu com lideranças.

Cada congregação deveria ter apenas um pastor. A idéia de pastor auxiliar ou adjunto é totalmente estranha às Escrituras. Admito a idéia de um segundo ou terceiro pastor, desde que estejam em treinamento para assumir outra congregação. Caso contrário, mais cedo ou mais tarde haverá choque. É inevitável. Para exemplificar: quando Moisés estava prestes a morrer, Deus ordenou que ele passasse o cajado para Josué. Apenas Josué. Por que não Josué e Calebe? Afinal, eram milhares de judeus para conduzir. Mas Deus escolheu apenas Josué para exercer aquela liderança.


O termo “líder” deveria ser extinto das igrejas. Além de fomentar a competição e facções entre os irmãos, o título de líder ainda trás o agravante de não ser jamais usado na Bíblia, especialmente no Novo Testamento (a não ser na deturpada versão NVI). O mesmo se dá com a idéia de “departamentos” ou “ministérios”, ou ainda de conjuntos para homens, mulheres, jovens e crianças. Além de tais conceitos serem estranhos às Escrituras, acabam por fazer do altar um palco de apresentações e, do culto, um programa de auditório.

Não é de se admirar que os pastores se pareçam cada vez menos com imitadores de Cristo e cada vez mais com animadores de festas.

Concluo, afirmando que nossa preocupação não deve ser imitar os modismos evangélicos, mas buscar o modelo bíblico para uma verdadeira igreja cristã. Respeito meus colegas e amigos que pensam diferente. Não tenho direito algum de me intrometer no sistema organizacional de sua denominação. Mas, aqui fica registrado este alerta e o meu ponto de vista. Tenho todo direito de ser diferente da maioria.

Não sei quanto a você, mas, quanto a mim, continuarei revisando meus conceitos à luz das Escrituras. Isto é altamente recomendável a todo cristão, especialmente neste tempo de grande apostasia.

“Porventura, procuro eu, agora, o favor dos homens ou o de Deus? Ou procuro agradar a homens? Se agradasse ainda a homens, não seria servo de Cristo.”
(Gálatas 1:10 RA)